Algumas pessoas desfilam pela vida obstinadas em tudo o que fazem. Gastam uma energia enorme tentando fazer o trabalho perfeito, preparar o jantar perfeito, apresentar o projeto perfeito.
Vivem às turras com todo mundo, pois não aceitam nada menos do que perfeição!
Aparentemente, há um quê de narcísico no padrão de excelência que é endereçado para possíveis elogios a ser colecionados. Mas, o pano de fundo revela, quase sempre, uma necessidade de ser notado, aceito, reconhecido. O problema é que o esforço acaba sendo desproporcional. A entrega perfeita cobra o preço da liberdade – e do direito – de errar e aprender. E também de conviver e se relacionar de modo mais leve e agradável.
Embaraçada no alinhavo da própria imperfeição – baliza de todos os seres humanos – a pessoa perfeccionista briga (e perde!), porquanto, não conseguindo alcançar os padrões elevadíssimos que ela mesma estabeleceu, culpa-se, condena-se, tranca-se na prisão... e joga a chave fora.
Emaranha-se em processos de vitimização e sofrimento desnecessários, que, a bem da verdade, são resultantes da autocobrança excessiva, afinal, são exigências da própria pessoa, que não se perdoa por falhar, nem admite a falha alheia. No campo das relações interpessoais, critérios muito altos e avaliações rigorosas demais devoram qualquer tentativa de aproximação. Frases do tipo: “Não é assim que se faz”, “Você não sabe, deixa que eu faço”, “Ninguém faz direito”, viram grades do cárcere em que a pessoa se enfia. Quando consegue acordar, já afastou a todos, está esgotada e infeliz...
Uma saída pode estar no exercício da autocompaixão: ser gentil consigo mesmo, aceitar-se limitado e imperfeito, olhar-se com bondade e trabalhar para estancar o sofrimento gerado em si mesmo e nos outros. A imperfeição pode ser vista como oportunidade de abertura para o aprendizado, para o crescimento pessoal e para uma convivência mais agradável, com melhor qualidade das relações consigo e com o mundo.