A esperança é uma cognição. Isso significa dizer que ela resulta de uma avaliação sobre determinado evento, não sendo um produto instintivo de funções inatas.
Esse conceito contraria a lógica do pensamento automático, descoberto por Aaron Beck, Psiquiatra estadunidense, que sempre tem uma vertente autodepreciativa e desagradavelmente categórica.
Tais pensamentos simplesmente ocorrem, e não por acaso, quando partimos para o tratamento, pedimos que nossos pacientes introduzam uma vírgula e elaborem um raciocínio mais funcional (ou seja, a terapêutica exige certo empenho).
A crueza dessas ideações é assinalada por sua morfossintaxe, de qualidade imperativa, primitiva e hostil. “Você devia estar morta!” ou “Sou um fardo para os meus pais” são pensamentos automáticos desesperançosos, especialmente associados a situações suicidógenas.
A esperança, por seu turno, é adaptativa, uma vez que está presente nas expectativas realistas, na avaliação dos meios para se atingir um objetivo, na lida com contratempos e na crença de que algo pode ser realmente feito. Esperança aumenta o bem-estar psicológico.
Quando tratamos alguém que já está “desacreditado de qualquer método” (nada lhe ajudou), procedemos com a ativação comportamental, que consiste em pôr-se em movimento rumo a algo qualquer, rompendo com a estagnação típica do humor deprimido.
Os pequenos sucessos alçados pelo indivíduo são da mais extrema serventia, pois mostram a ele, como evidências, que ele mesmo tem a capacidade de resolver desafios. Assim, motivação também é produzida, não se tratando a mesma de um afeto meramente sentido, como crê o senso comum.